Buenos Aires longe do aquecimento global
Marcio Fernandes – Enquanto o Brasil derrete no ambiente seco de primavera inóspita e enganadora, em Buenos Aires faz frio consistente e genuíno. Mesmo ao sol do meio-dia é necessário sair de casaco para explorar o bairro Palermo Soho pleno das idiossincrasias que o fazem parecer um cenário de cinema europeu.
Eu estive a primeira vez na capital da Argentina ainda no Governo Menem, de quem hoje os portenhos têm horror de lembrar. O peso tinha equivalência monetária com dólar e os argentinos se achavam os donos da banca de cocada preta da América Latina. Hoje, são necessários 1.230,00 pesos para se adquirir um dólar. Talvez por conta de tanto sofrimento com a volta da hiperinflação eles agora são só gentileza e humildade.
Mesmo assim, a Argentina é de longe o único país abaixo do Equador no Novo Mundo que cumpre com os cinco requisitos civilizatórios: a maioria da população tem mais de 1,70 de altura; há rigoroso respeito pela faixa de pedestre; o hábito de caminhar com jornal embaixo do braço é um ritual urbano religioso; ninguém atira lixo na rua e os cachorros convivem mais com os animais da própria espécie do que com humanos.
Eu acrescentaria o diferencial da formidável cultura do cartaz. A arte do desenho impresso em papel como meio de informação está por todos os lados sem poluir visualmente a cidade. Aliás, arte é algo tão sagrado para os argentinos que você encontra loja especializada em lápis de cor. Simplesmente, por aqui não existe o maloqueirismo do brasileiro de andar olhando para o celular. Em bares e restaurantes, então, a conduta é ofensiva aos bons costumes.
Quem imagina uma Argentina decadente, como a que eu presenciei em 2001, ocasião em que eles tiveram cinco presidentes em em 11 dias, precisa vir para cá conferir que o país está bem, na medida do possível. Normalmente eu meço a qualidade de vida de uma nação pela exuberância das bancas de frutas. Por aqui só vejo laranjas de destacada beleza e até os abacates estão expostos com sorriso aberto nos estabelecimentos.
A mim pouco importa o que se passa na cabeça do Milei, pois a Argentina tem na profusão de livrarias um antídoto para político de qualquer espécie, embora o remédio não funcione. Além disso, o país se destaca por ser o segundo maior cultivador de Cinquecento (Fiat 500) do planeta, perdendo apenas para a própria Itália.
Outra questão importante: a arborização urbana é tão eficiente que você encontra sombra mesmo com o sol a pino. Por fim, a Argentina é, de longe, a maior e melhor produtora global de bife à milanesa. Trata-se de uma reserva estratégica que um dia irá reposicionar a Argentina no cenário geopolítico do Hemisfério Sul. É o que vou almoçar hoje.
Marcio Fernandes: texto e fotografias
A qualidade de vida de um país ser medida pela quantidade de frutas na bancas é algo muito singular, essa observação pode tornar obsoletas as fórmulas tradicionais dessa medição como PIB, renda per capita, o padrão Gini e até o preço do Big Mac, no mais concordo com la grandeza de la nacion de los hermanos, inclusive com o alto índice de cinquecentos de lá, afinal, de carros ruins eles entendem, têm tecnologia de sobra para fabricá-los, usá-los e até mandam uns para cá.
FENOMENAL AMEI SEU ARTIGO, PARABÉNS DR,,,,MÁRCIO FERNANDES….