sábado, 27 de julho de 2024

CAÇAROLICES – A caponata da Carla

Caponata da Carla, com tudo / Foto: Rimene Amaral

 

Maurízio desembarcou no Brasil com dois amigos em 28 de dezembro de 1999, vindo da Itália. A intenção era passar o Réveillon no Rio de Janeiro, ver a queima de fogos em Copacabana e depois emendar em alguma balada cheia de carioquices e muita bebida. Pouco antes das 22 horas do dia 31, lá estava ele todo de branco, perfumado, garrafa de espumante na mão e na companhia dos dois amigos e de suas respectivas recém-conhecidas companhias cariocas. Ele tinha escolhido ficar sozinho daquela vez.

 

Quando a contagem regressiva começou, Maurízio bateu a mão no bolso e percebeu que tinha sido roubado. Na carteira havia pouco mais de R$ 100 e o cartão-chave do hotel. Preocupado, disse aos amigos que voltaria ao hotel para resolver o problema e não sairia mais. Iria aproveitar a festa que rolava na piscina. E foi lá que conheceu Carla Rosa, capixaba e neta de italianos, que também estava no Rio só para ver a queima de fogos. Começava ali uma linda história de amor. E uma grande história de afinidades na cozinha. 330 dias depois eles se casavam, em 25 de novembro de 2000.

 

Conheci o casal e sua história em 2013, na festa de um amigo de longa data em Vitória. Durante o tempo em que fiquei na capital capixaba, saímos algumas vezes, mas foi na casa do casal que nos aproximamos. Mais especificamente na cozinha. Maurízio comia de tudo e sabia muitas receitas de cabeça, mas só na teoria. Nunca tinha, de fato, colocado a mão na massa. Era Carla quem desenvolvia as receitas preferidas do italiano, criadas pela avó siciliana. Mas sempre havia um plus que deixava Maurízio irritado até que provasse a iguaria.

 

Um dos pratos que mais geravam tensão era a caponata. Maurízio dizia que a da avó consistia em berinjela salteada num refogado de tomate e cebola em azeite, temperado com alcaparras, vinagre e açúcar. Apenas! “Solo quello, Carla”, gritava ele gesticulando as mãos quando via a esposa picando abobrinha, pimenta dedo de moça, alho e pimentões coloridos. Quando a caponata da Carla saía do forno, Maurízio se perdia no prato e beijava a mulher num gesto eterno de agradecimento pela mudança feita na receita da avó. A caponata da Carla virou petisco obrigatório em qualquer reunião de amigos, servida com torradas amanteigadas e um bom vinho primitivo.

 

É claro, fiquei ali do lado para entender essa revolta deliciosa pela qual Maurízio passava toda vez que tinha caponata. Muito simples:

 

Os ingredientes que a Carla usa:

1 berinjela picada em cubos de aproximadamente 2 centímetros

1 abobrinha Itália picada da mesma forma

1 cebola roxa e 1 cebola amarela em pétalas

1 pimentão verde, 1 amarelo e 1 vermelho picados em palitos

4 tomates maduros sem sementes picados em palitos

3 pimentas dedo de moça em cubinhos

6 dentes de alho em cubos não muito pequenos

2 colheres de alcaparras pequenas

3 colheres de vinagre de maçã

1 colher de açúcar

Sal, azeite, pimenta-do-reino e orégano a gosto

 

Para fazer é mais simples ainda. É só misturar tudo isso, regar com mais azeite e levar ao forno pré-aquecido (200°) numa refratária por 40 minutos (mexendo a cada dez minutos). Eu acrescentei uma raspinha de limão depois de pronto, na hora de servir, só para perfumar.

 

 

Glutamato monosódico / Foto: iStock

 

Vocabulário de forno e fogão

M.s.g.: (monossódico glutamato) – um produto químico usado para realçar o sabor de alimentos, derivado de beterraba, milho e trigo. Deve-se tomar cuidado com a quantidade usada na preparação de alimentos.

 

 

Sabia?

Engana – Castanha-do-pará torrada fica com gosto de torresmo

Ressureição – Pão de ontem borrifado com água e forno fica igual ao de hoje

Fake – Inhame cozido com morangos frescos no liquidificador vira Danoninho

Consictência – Uma maçã pra cozinhar com o feijão faz o caldo engrossar e não muda o sabor

 

 

Quibe recheado com ariche e salda

 

Inventice da semana

Quibe recheado com ariche – Quibe cru recheado com salada de coalhada com tomate, cebola e hortelã picadinho (tomate sem semente e cebola cortada em cubinhos misturados no ariche). Recheie, molde e asse em forno quente com manteiga por 30 minutos. Servido com mostarda escura.

 

 

 

Guacamole / Foto: Rimene Amaral

 

Marinada

México – Abacate picadinho, cebola e coentro. Azeite, raspa e caldo de limão siciliano e pimenta dedo-de-moça. Pão e vinho do lado.

Frito – Aquele pastel de feira, com massa crocante e recheio só pela metade para que você complete com vinagrete. Isso também é vida.

Absurdo I – Pipoca de milho com cream cheese. Me julgue!

Absurdo II – Uma fatia larga de queijo-minas assado com uma colher de açúcar mascavo por cima. Julgue de novo!

Brasa – Tempero para carne de churrasco é apenas sal grosso. Faça o molho a parte.

 

Bom Apetite. Até a próxima!

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Este post foi escrito por: Rimene Amaral

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

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