CAÇAROLICES – Especial Bruschettas
Talvez a história do pão se confunda com a história da alimentação em todo o mundo. O alimento teria surgido há mais de seis mil anos, quando os egípcios descobriram a fermentação do trigo. Era um alimento básico e símbolo de poder. Em algumas épocas, também no Egito antigo, já foi utilizado como moeda, inclusive no pagamento de salários. Um dia de trabalho era equivalente a três pães e dois vasos grandes de cerveja. Convenhamos que, dependendo do trabalho, o salário era mais vantajoso que muitos pagos hoje em dia.
O pão é um alimento-símbolo e já foi protagonista do milagre da multiplicação feito por Jesus Cristo, à margem do mar da Galiléia. Também foi, junto com o vinho, alimento presente na Santa Ceia. Aliás, desde que a história foi escrita a dupla pão e vinho fizeram sempre uma excelente dobradinha. Até hoje em restaurantes mudo afora, quando se pede um vinho, lá está uma cestinha de pão para acompanhar. E quem não gosta? Nos países do Velho Mundo, principalmente, o pão é muito mais que o acompanhamento do vinho nas refeições diárias das famílias e nas mesas dos restaurantes, ele é o principal alimento em todas as classes sociais.
E é do pão que saem tantas receitas regionais que deixam qualquer mortal de queixo caído e de caso com o pecado da gula. Mundo afora e várias culturas criaram iguarias que romperam séculos e viajaram milhares de quilômetros. Hambúrguer, rabanada, sanduíches variados, focaccias… e as bruschettas. Ah, as bruschettas! São elas as estrelas desta coluna.
A bruschetta é um antepasto italiano feito com uma fatia de pão rústico, de farinha escura e grossa, de casca dura, tostada na grelha ou numa frigideira, esfregada com alho, untada com abundante azeite e polvilhada com sal e eventualmente com pimenta-do-reino. Essa é uma receita típica italiana, que tem sabor familiar e acolhedor. Mas a criatividade existe. E foi por ela que as bruschettas foram ganhando cada vez mais variantes. A tradicional, de queijo com tomate, ainda é a mais servida, mas podemos fazer inúmeros recheios sem perder a essência dessa deliciosa entrada que, em muitos casos, acaba por se tornar o prato principal.
Ao longo do tempo, comecei a rechear fatias de pães com as mais variadas iguarias e fotografá-las. Primeiro, a tradicional e mais servida, de queijo com tomates – e suas variantes. Mas temos também a bruschetta de cogumelos; a de queijo brie, berinjela com cebolas caramelizadas e raspas de laranja; a de pimentões, tomate e alho confitados; de abacate com cebola roxa e ovo; de ervas… e, a partir disso, a criatividade e o paladar é o quem mandam.
A base de todas as bruschettas é a mesma:
1 fatia grossa de pão – preferência um pão cascudo – tostada numa frigideira quente com azeite (dos dois lados) e depois esfrega-se um dente de alho cortado no pão tostado. Pronto! Esta é a base. O que vem a seguir é a criatividade para que cada uma delas seja a melhor experiência que se pode ter.
Bruschetta tradicional
Usei pão italiano da La Farine, cortado em fatias de aproximadamente 2 centímetros. Depois de preparar o pão coloquei duas fatias generosas de queijo parmesão, tomatinhos sweet grape cartados em duas bandas, fatias finas de cebola roxa e levei ao forno quente (ou air fryer a 200° por 3 minutos) até gratinar. Finalizei com manjericão e sálvia frescos e um fio de azeite.
Bruschetta de tomate, cebola, limão siciliano e tomilho (variante)
Usei o pão cascudo da La Farine. O recheio foi:
1 bola de muçarela de búfala despedaçada e uma saladinha feita com tomates maduros, sem semente, picadinhos com cebola roxa também picadinha e ½ dente de alho também picadinho, raspas de limão siciliano, pimenta-do-reino, pimenta calabresa, tomilho fresco e azeite. Forno quente (ou air fryer a 200° por 3 minutos) até gratinar.
Bruschetta de confitados
Usei pão de nozes também da La Farine. Duas fatias de muçarela e um confit de tomate com pimentão, alho e ervas, feito assim: tomate picado sem semente, pimentão picado, alho inteiro, pimenta-do-reino em grãos, pimenta calabresa, alecrim fresco, páprica defumada e azeite até cobrir os ingredientes. Tudo isso confitado (leve ao forno com papel alumínio até que fiquem assado e macios), uns 40 minutos em forno médio. Diferente das outras, essa bruschetta deve ter o queijo gratinado antes de colocar o recheio de confit.
Bruschetta mexicana (sim, mexicana!)
Usei uma banda de ciabatta La Farine. Cobri com fatias finas de abacate (pode ser avocado também) e, por cima temperei com flor de sal e pimenta do reino moída na hora. Rodelas finas de tomate maduro, cebola roxa em fatias finas, pitadinha de sal e pimenta calabresa em pó, raspas de limão, um ovo frito com gema mole por cima e gergelim levemente torrado na frigideira. Para finalizar, folhas frescas de tomilho e azeite. Essa nem vai ao forno!
Bruschetta de queijo brie com berinjela e cebola caramelizada
Usei meia banda de baguete parisiense La Farine. A primeira camada foi de queijo brie massaricado (opcional), fatias finas de berinjela grelhadas no azeite com uma pitada de sal, cebola roxa caramelizada (cebola picada em meia rodela, refogadas na manteiga até murcharem. Acrescenta uma colher de açúcar mascavo e duas colheres de molho shoyu), pimenta dedo de moça sem semente picadinha e raspas de laranja para finalizar. Decore com ramos de tomilho fresco. Também não precisa ir ao forno.
Bruschetta de ervas
Também usei baguete parisiense La Farine. Fiz uma mistura com: 2 colheres de manteiga de leite, 3 colheres de manjericão picado, 1 colher de tomilho fresco, 1 colher de cebola ralada, 1 dente de alho pequeno bem amassado, 1 colher de salsa picada e um raminho de alecrim picadinho. Mistura tudo e passa generosamente das duas bandas da baguete e leve ao forno quente até que fiquem douradas.
Frase
Tu és escravo, enquanto desejas alimentos abundantes de outrem. É melhor comeres teu pão, que serás livre – William Langland
Bom apetite!
Rimene, me encantaram essas suas delícias! Parabéns pela habilidade culinária.
Obrigado Cassim..