sexta-feira, 26 de julho de 2024

Cicatrizes resgatam nossas lembranças

 

Hoje, quando acordei, fui lavar o rosto e de repente olhei no espelho e comecei a me observar. Inclinei a cabeça um pouco para trás, quando percebi uma pequena cicatriz. Atentei para aquela marca que nem sei quantos anos está ali.

 

Para falar a verdade, nem me lembro qual a idade tinha quando me machuquei. A única coisa que me lembro é que a marca era bem maior. Uma ferida antiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou e para sempre perdeu-se no momento em que essa dor cessou; embora hoje tenha latejado louca nas  lembranças.

 

Pois é. A vida da gente é cheia de cicatrizes.

 

Como diz Padre Fábio de Melo, “É o momento da cicatrização. A reconciliação daquilo que você deseja, com aquilo que você não pode. Cicatrizar é uma necessidade constante”. O tempo vai levando dores e aliviando o peso das mágoas. Cicatrizes de palavras que nos feriram, de silêncios que nos atropelaram, de ausências que nos fizeram chorar.

 

Cicatrizes de dores físicas, de dores na alma, são sinais que carregamos dos perrengues da vida, das lutas, dos embates. São marcas da nossa história e o que nos torna únicos.

 

Sou cheia de cicatrizes. Somos. Algumas mais expostas, outras escondidas, mas que de vez em quando as sentimos ou vemos, como foi o meu caso hoje. Não diga nunca mais nem jamais! Nunca mais é muito tempo; jamais é fruto da profundidade de suas cicatrizes.

 

Para tudo, o tempo é sábio conselheiro. Você dorme no mar agitado e acorda sonhando em um veleiro.  O tempo se incumbi de fazer as cicatrizes, sem escondê-las durante a noite escura ou fazer barulho pela manhã. Ele simplesmente reveste a vida com fina armadura, despindo a verdade, que aparece assim: finalmente nua e crua.

 

O mais importante é que a cicatriz está ali para nos lembrar que estamos sobrevivendo às intempéries da vida. As cicatrizes, marcam, você chora, mas sorri em dobro! Ama, e um dia recebe tudo de volta! Sofre, mas aprende. Eram feridas abertas, hoje apenas marcas.

 

Trago em mim cicatrizes profundas, mas elas nunca me impediram de sorrir e continuar lutando e acreditando no amor.

 

Até agradeço cada cicatriz que trago em mim. Elas ajudaram a me construir e reconstruir.

 

Perdoo a vida, as pessoas que um dia me causaram alguma cicatriz e peço perdão a quem um dia deixei alguma marca dolorosa.

 

Nossas cicatrizes servem para nos lembrar que o passado foi real. Mas elas não têm de nos ditar como será o nosso futuro.

 

Foto: Ron Lach

 

Avatar

Este post foi escrito por: Edna Gomes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

Deixe uma resposta