terça-feira, 22 de abril de 2025

Coisas de brasileiro que você não precisa fazer na Europa

 

Marcio Fernandes – Vou começar pela conduta mais grave. Chegar a um bar ou restaurante e se sentar por conta própria simplesmente porque a mesa está vazia. Isto só acontece no Brasil. Na Europa, você tem de pedir ao garçom uma mesa em toda e qualquer circunstância. Ele manda na organização do estabelecimento e não pode ser chamado de brother. Uma vez acomodado, não adianta ficar fazendo mímica e abanar a mão para o cara. Ele já sabe que você está lá e vai te atender no tempo certo. Por fim, a decisão de pedir os pratos. Você é livre para escolher o que quiser no cardápio, mas não pode ter hesitação no exato momento em que o garçom for anotar o pedido. E jamais alterar o prato, a não ser que você já esteja tomando o vinho mais caro da casa e virou o melhor amigo do dono.

 

Pessoal, aeroporto não é boteco com churrasquinho nem parque de diversão. Eu até entendo aquela saliência do povo antes do voo. É bacana a excitação da viagem, mas não precisa fazer demonstração coletiva de regozijo em roda de cerveja na cafeteria do salão de embarque. Sempre achei uma situação abominável o sujeito beber cerveja em lata no aeroporto. Outra coisa importante: você não precisa formar fila só porque viu que a funcionária da companhia aérea apareceu nas cercanias do portão de embarque. Brasileiro detesta fila. É só viajar de avião que toma simpatia por ficar parado de pé onde não foi chamado. Pode ter certeza de que em 100% dos casos, primeiro serão convidados os passageiros prioritários, assim entendidos os protegidos por lei e os que vão de classe executiva para cima.

 

Depois, a ordem de ingresso na aeronave será efetuada de acordo com a numeração das filas, cuja informação está no seu cartão de embarque. Se chamou a fila 1 e a sua é a 3, basta desconfiar e não fazer nada que tudo ficará muito bem. Chegou a hora da imigração. Por segurança, o camarada já desce com o passaporte na mão e apurado. Não precisa de nervosismo. A regra universal é sempre responder da maneira mais sucinta e objetiva ao que lhe é perguntado. Não faça elogios às instalações do aeroporto nem diga que ama os pastéis de Belém. O oficial da imigração não está lá para conversa mole ou platitudes. Outra coisa importante. Guarde o seu celular no modo silencioso, do contrário mesmo que você não seja devolvido ao Brasil, vai tomar uma escovada grande e merecida do policial.

 

Tem uma coisa que brasileiro faz no exterior que deixa os caras perplexos: atravessar um atendimento público ou privado em andamento para pedir informação. Pessoal, na imensa maioria dos casos, inclusive no açougue, você vai ter de pegar a senha e esperar sua vez. Diferente do Brasil, ela vai chegar e será plena de realizações seja no centro de atendimento ao turista seja no guichê do metrô. O brasileiro é um povo expansivo e adora cumprimentos afetuosos. Isso criou o hábito de tocar nas pessoas sem intimidade. Europeu não é de abraçar sem que haja uma necessária explicação. É importante evitar gestos espontâneos, especialmente naquela longa viagem de trem. O vagão não é lugar para se comemorar nada, a não ser a chegada ao destino, que você pode fazer consigo mesmo.

 

Se tem um hábito não só do brasileiro, mas do terceiro-mundo em geral, e dos japoneses, em particular, é andar em via pública pregado no WhatsApp. O europeu está cada vez mais fazendo as contas da perda de qualidade de vida causada pelo boom econômico do turismo. Essa coisa do cara tropeçar em você digitando no celular virou um caso exemplar de falta de respeito. Não tem essa de ouvir mensagem no viva voz em ambiente público. Há muitos restaurantes na Europa que simplesmente não têm rede de internet e as maiores companhias de trem cobram uma taxa extra para você viajar no vagão do silêncio. Uma maravilha.

 

A relação que o brasileiro tem com as transações financeiras em um país estrangeiro é algo sensacional de assistir. Especialmente na divisão da conta do restaurante, depois da turma ter enchido o odre de vinho. Em vez de separar a conta de cada um em euro, a galera briga pela taxa de conversão. Nas lojas de departamento, o brasileiro não perde a oportunidade de perguntar em quantas vezes o valor é dividido no cartão, quando não pede desconto em bilheteria de museu porque são seis pessoas para fazer self com a Monalisa.

 

Por outro, esse mesmo brasileiro que imagina implantar na Europa, em 20 dias de viagem, a esculhambação do país, traz na alma a timidez helminta daquela coisa do “eu entendo, mas não falo”.  E aí parte para o sorry imotivado. Mesmo se o cara esbarra em você, por natural submissão tropical ao sujeito, é lançado o sorry. Se está em país de língua espanhola, o sentimento de inferioridade se expressa no puedo, até para pagar a conta no caixa de supermercado. O inglês limita o camarada, mas o portunhol abre enormes possibilidades de comunicação. Eu só senti dificuldade com o meu na Bolívia e em alguns lugares do Alentejo. Tem isso também. O brasileiro, depois de percorrer cinco países em 17 dias naquela excursão sensacional que terminou em Lisboa, fala portunhol com os portugueses.

 

Marcio Fernandes é jornalista

Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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