Como seria bom se o Brasil fosse morar na Bolívia
Marcio Fernandes – Esqueça a visão preconceituosa que normalmente o brasileiro tem da Bolívia. Sim, é verdade que se trata de um dos maiores narcoestados do planeta e um país dominado por sucessivas ditaduras canhestras, próprias das repúblicas bananeiras da América Latina. O resto é ignorância de quem se acha melhor do que o outro por alguma razão econômica ou étnica.
A Bolívia é simplesmente um país maravilhoso, que preserva a herança cultural das civilizações pré-colombianas e possui uma paisagem humana linda e diferenciada composta por 36 nações, entre indígenas e escassos neo-europeus. Fez parte do Império Inca por ter sido dominada por esta civilização imediatamente antes da colonização espanhola. Ou seja, sequer Inca foi, como muita gente imagina. Tem condição sanitária precária, o que não significa que você está predestinado a morrer de cólera assim que tomar um suco de tamarindo em território boliviano.
É muito pobre se forem observados o índice desenvolvimento humano e a renda per capta como indicadores de referência. O que não quer dizer que se trata de um país composto por milhões de indígenas famintos e mendicantes no altiplano andino. Nada disso confere necessariamente com a realidade ao percorrer o país que, além dos Andes, tem 60% do seu território na Amazônia e a maioria da população nas terras planas do leste do país que fazem vizinhança com o Pantanal.
A primeira pergunta que o brasileiro faz sobre um país estrangeiro é a respeito da segurança pública. É de se imaginar que a Bolívia, em razão de ser extraordinário produtor de cocaína, seja dominada por traficantes armados que vão, na próxima esquina, te sequestrar, roubar teus dólares e te decapitar. Por aqui, não rola nem furto de celular. Mesmo na periferia das cidades, não vi nada que se parecesse com as cenas cotidianas de bandidos do Rio de Janeiro a guerrear entre facções criminosas. Aliás, o próprio policiamento ostensivo é quase imperceptível nas cidades bolivianas.
Por mais inacreditável que pareça, e não estou viajando na maionese, a Bolívia é mais funcional do que o Brasil da Faria Lima. A começar pelo vinho que é muito bom e barato. Ninguém usa terno e gravata. Basta observar a indumentária das cholas, senhoras indígenas tradicionais, cuja manta tem a multifunção de carregar carga, filhos e proteger do frio. No Brasil ninguém carrega nada. O camarada, sem expediente nenhum, acorda ao meio-dia, almoça bem e lá pelas 16 horas vai dar uma circulada fraca de camiseta, bermuda e chinelo.
É impossível dar certo um País de oito milhões de quilômetros quadrados no qual se pode viver o ano inteiro de chinelo em quatro quintos do território. Eu já viajei para algumas partes do mundo e a Bolívia foi o único lugar no qual descolei um voo que partiu antes do horário programado.
No último governo militar do Brasil havia um slogan que tolamente te confortava da decadência econômica de então: “Você trabalhou e o Brasil mudou”. O Pasquim, que não deixava barato essas bobagens governamentais, emendou o slogan com a frase: “Deixar recado na Bolívia”.
Eu vou além. Como não deu e não vai dar certo nunca, acho que o Brasil deveria se mudar em definitivo para a Bolívia. A gente iria perder o mar, mas teria montanhas em abundância. O melhor de tudo: teríamos neve sem aquela papagaiada de falso europeu a orar pelo Malafaia por meia-hora de nevasca subtropical em Gramado. Teríamos neve consistente, a última aparência civilizatória de um planeta em derretimento.
Teríamos indígenas de verdade, no lugar da ministra Sônia Guajajara a se cobrir de cocar de apache em filme de Hollywood e vestido último modelo maia da Guatemala. Teríamos um golpe de Estado a cada 18 meses para dar emoção ao bananal não vacinado que fala mal da Bolívia, mas não consegue controlar o mosquito da dengue.
Melhor de tudo, iríamos promover a verdadeira unidade da América Latina ao introduzir o portuñol como idioma oficial do México aos confins da Patagônia. Como já estou por aqui, não teria de fazer conexão em Guarulhos ao voltar para casa. Bienvenidos cucarachos de Brasil! Mi casa, su casa!
Marcio Fernandes é jornalista
Tenho um colega Americano que mudou-se de “mala e cuia” para o Paraguai. Apesar do absurdo que isso possa parecer, ele gosta bastante deste outro país. Assunção, segundo ele, é bastante aprazível.
O que ele faz? Nos EUA trabalhava com TI. O pai deixou vastas terras no Paraguai para os filhos plantarem Soja. Enfim, cansou-se da correria Ianque e mudou-se para o Paraguai com mulher e filhos
Querido Américo, o Paraguai vai chegar ao primeiro-mundo antes do Brasil, que nunca vai sair do atraso.
Amei essa ideias 💡 brilhantes parabéns falou tudo parabéns Dr