sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Depois de muita chuva

PIETERPAD – Dia 1 — De dia ensolarado de verão em Amsterdam, Holanda, parti de trem para Groningen para iniciar caminhada de longa distância no chamado Pieterpad. A rota liga o país de Norte a Sul por quase 500 quilômetros em terreno plano. Sabia que o dia seria chuvoso, mas não imaginava pegar verdadeira “tempestade tropical.”

 

Como estava previsto no serviço de meteorologia, às duas da tarde a chuva foi embora e pude deixar Groningen para jornada de 21 quilômetros a pé em companhia da minha mochila, conhecida como La Madastra II. Havia obra grande na saída da cidade e isso me fez pegar rumo errado, mas logo fui socorrido por gentil senhora. Aliás, em todo percurso as pessoas são normalmente solícitas e não escondem prazer em ajudar quem se aventura pela zona rural da Holanda.

 

 

Não há muito segredo para ser bem-tratado no país. É só seguir as regras sociais e ambientais que eles te tratam com muita amabilidade. No mesmo sentido, não existe menor risco em caminhar sozinho. Ninguém vai furtar teus pertences, tirar vantagem da sua condição de estrangeiro ou apontar uma arma para tua cabeça como é usual no Brasil.

 

 

A primeira etapa foi incrível. Por quase nove quilômetros, o trecho do Pieterpad segue margeando o canal que conecta Groningen a Haren. No caminho você encontra gente praticando esportes náuticos, moinhos de vento e até casal de porcos caipiras em franca manifestação de contrariedade com a sua presença. Em uma propriedade rural, o produtor estampou faixa grande em oposição ao comportamento politicamente correto que pretende fechar o negócio dos caras por entender que produzir alimento causa impacto ambiental desnecessário: “Sem fazendeiros não há comida”, diz o anúncio em tradução livre.

 

 

Parei para lanche, mas na verdade me foi servido almoço grande às margens do Lago Sassenhein. Em caminhada de longa distância é fundamental você equilibrar o gasto de energia corporal. Na primeira metade da etapa sempre é aconselhável ganhar terreno com agilidade para ter fôlego e pés no fim da caminhada, especialmente quando há previsibilidade de terreno plano, como é caso da Holanda. A regra se cumpriu conforme o padrão.

 

 

Depois de deixar Haren estava inteiro, tinha feito avanço grande e tudo parecia moleza. Mas aí tive de atravessar longo percurso pelo Parque Nacional Drentsche Aa. O terreno da floresta estava encharcado e a progressão foi bem lenta. Nestas situações a sensação é de que o peso da mochila dobra e a distância parece infinita. Atrasei em quase duas horas minha previsão de chegada a Schipborg. Finalmente alcancei o luxuoso Bed & Breakfast. Havia comprado um vinho grande para celebrar primeiro dia de Pieterpad. Só houve um pequeno problema. Fiz a reserva para 24 de julho. Um mês depois da minha chegada. O hotel estava lotado. Seria a roubada do milênio. Anke, a proprietária, percebeu que eu estava morto de cansado, me ofereceu xícara de chá, improvisou um quarto com direito a banho rápido e ganhou o vinho de presente. Amanhã tem mais.

 

 

 

Marcio Fernandes é jornalista

 

Fotos: Marcio Fernandes

Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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