Ela tira dor com a mão
De acordo com a mais recente atualização da definição de dor, realizada por especialistas da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e Associação Internacional para o Estudo da Dor, ela não é apenas uma sensação ou sintoma. É uma condição muito mais complexa que o profissional de saúde deve reconhecer adequadamente para orientar a pesquisa científica básica, o atendimento ao paciente e as políticas públicas. Mas, bem antes dessa atualização, realizada em setembro de 2020 e publicada na revista Pain, a fisioterapeuta Juliana Blanco já defendia a inclusão do tema no protocolo da saúde pública. Ela, que tem formação em RPG – Reeducação Postural Global –; posturologia, que é a análise de todas as causas e consequências dos desvios posturais; podoposturologia, análise e tratamento dos desvios de pisada; no método self-healing, a auto-cura e várias técnicas de terapias manuais como shiatsu, liberação miofascial e de cadeias musculares, além de ter estudado bioenergética, está à frente da clínica Pé Direito, onde confecciona as palmilhas posturais sob medida para alinhar e equilibrar o corpo e desenvolve suas técnicas com as quais é capaz de “tirar a dor com a mão”, literalmente.
BBnewsEntrevista – Juliana, qual o pior tipo de dor?
Juliana Blanco – Eu acho que as piores dores que são aquelas que pinçam a enervação. O ciático, por exemplo. É uma dor constante e latejante. Mas todas as dores são ruins, na verdade. A pior dor é a que a gente sente. Uns acham que é de joelho, de dente….
BBnewsEntrevista – Quais dores você é apta para tratar?
Juliana Blanco – Eu trato muito das patologias do pé. São as fascites plantares, Neuroma de Morton, esporões de calcâneo, problemas no joelho e na coluna, principalmente a lombar.
BBnewsEntrevista – No geral somos hoje mais doloridos do que antigamente?
Juliana Blanco – Eu acho que bem mais, sem dúvidas. Considerando tudo o que eu já estudei no que diz respeito à somatização das dores no nosso corpo, posso falar que o estresse que a gente vive hoje adoece mais as pessoas. A pandemia adoeceu muita gente, pois afetou também a mente. Essa é a pior dor, pois há uma ligação da mente com a dor do corpo e da alma.
BBnewsEntrevista – Como detectar a origem da dor para tratá-la devidamente?
Juliana Blanco – Eu sigo todo um protocolo dentro das cadeias musculares. Analiso as articulações para ver se elas estão alinhadas: pé, tornozelo, joelho, quadril, coluna. Eu faço muita palpação na musculatura para encontrar nódulos, tensões e rigidez e todos os gatilhos que podem provocar a dor e assim consigo chegar à origem da dor. Eu olho tudo, até a mordida do paciente.
BBnewsEntrevista – Quanto é do indivíduo a culpa por determinada dor?
Juliana Blanco – Muito. O estilo de vida, se a pessoa é sedentária. Isso conta muito. Meu papel é orientar o paciente, pois a cura depende muito dele, de uma mudança de maus hábitos que prejudicam o bem-estar. A postura também influencia muito. Aliás, essa é a minha formação. É a alteração de postura que vai desencadear as alterações no alinhamento das articulações e das cadeias musculares.
BBnewsEntrevista – Quais tipos de posturas devem ser observados?
Juliana Blanco – Todos: o andar, dirigir, trabalhar… É importante ressaltar que uma boa postura exige um bom tônus muscular geral. Então, a partir do momento em que o paciente tem sobrecarga mais em um grupo muscular que o outro, isso já vai alterar a sua postura. E isso envolve as atividades diárias.
BBnewsEntrevista – Quais as técnicas que você utiliza para “tirar a dor com a mão”?
Juliana Blanco – Ao longo de quase 30 anos de profissão eu fiz muitas formações e a maioria de terapias manuais. O que eu mais uso são as técnicas de liberação das fáscias musculares. Com as mãos eu percorro todos os espaços, músculos para observar os bloqueios, que vão sendo desmanchados.
BBnewsEntrevista – É através dessa palpação que você detecta onde está o problema causador da dor?
Juliana Blanco – Exatamente. Eu percebo onde há menos tônus, mais rigidez. Esse é o exame que faço e já vou fazendo uma soltura, um desbloqueio. Daí eu oriento o paciente para uma atividade física adequada ao seu problema, para melhorar o tônus.
BBnewsEntrevista – As dores que você trata podem ser evitadas com postura correta e exercício físico?
Juliana Blanco – A atividade física é essencial para prevenir dores. O nosso corpo tem articulações porque foi feito para se movimentar com consciência. Então, depois que eu faço as liberações – porque um músculo muito tenso e rígido ele não vai ganhar força – eu reorganizo as cadeias, as articulações e oriento para que o paciente faça um treino para tonificar os músculos e ter uma postura bem elaborada.
BBnewsEntrevista – Você também trata doenças de origem neurológica?
Juliana Blanco – O meu marido teve síndrome de Guillain-Barré (uma doença autoimune quando o próprio sistema imunológico começa a atacar as células do sistema nervoso) e ficou tetraplégico por um tempo. Eu havia feito uma formação que está ligada ao tratamento neurológico, que é self-healing, e através desse método eu descobri que com as mãos a gente pode curar, refazendo músculos que estão sem força e os reconectando com o cérebro. A doença neurológica desconecta. Daí a gente promove novas formações neurais através de toques e massagens. E ele se recuperou em um mês e voltou a andar. Foi um trabalho criterioso de reconexão dos músculos com o cérebro.
BBnewsEntrevista – E você já tratou outros casos similares?
Juliana Blanco – Sim. Dia dessas tratei de um paciente que perdeu a sensibilidade nas pernas depois de uma bariátrica porque emagreceu muito rápido e perdeu algumas substâncias.
BBnewsEntrevista – E o que é mesmo o self-healing?
Juliana Blanco – É a auto-cura. O objetivo desse método é ensinar movimentos e auto- massagens para reabilitar os músculos e devolver força para os que estão fracos e também relaxar os que estão hipertensos. O self-healing trabalha os estímulos visuais, a quebra de padrão. Por exemplo: andar de costas, usar a outra mão. Isso otimiza o uso das cadeias musculares. Isso devolve o equilíbrio perdido.
BBnewsEntrevista – E como funcionam as palmilhas posturais que você faz sob medida para os seus pacientes?
Juliana Blanco – As palmilhas eu comecei a desenvolver quando fiz posturologia com um médico ortopedista francês e estudei quais as principais causas da má postura. Descobri que a principal é a pisada. O pé é a base e se essa base está desorganizada as outras articulações vão seguir esse desalinhamento. É como um pneu de carro desbalanceado. Daí eu comecei a ver que a maioria dos meus pacientes que tinham uma escoliose, hiperlordrose ou uma torção de quadril pisava errado. As palmilhas, que são feitas sob medida, alinham o corpo.
BBnewsEntrevista – As palmilhas, então, podem ser uma profilaxia também?
Juliana Blanco – Elas deveriam ser um protocolo para todas as pessoas. Assim como você vai ao dentista todos os anos, faz o seu check up ginecológico, de coração. As palmilhas podem prevenir problemas diversos de joelho, tornozelo, quadril e de coluna, porque alinham o corpo. Muitos acham que a palmilha serve só para quem tem pé torto e joanete. Mas não! A palmilha é postural. Além de melhorar a pisada e as patologias do pé, ela alinha todas as articulações. Ela é feita sob medida depois de uma rigorosa análise de postura. É um trabalho de prevenção muito importante. Meus pacientes que usam a palmilha relatam melhoras nas dores. Eu uso e quando fiz o curso tinha dores no pé e na coluna, pois trabalho de pé o dia todo. Virei outra pessoa. Mas é claro que não é só a palmilha; muitas vezes são necessários tratamentos coadjuvantes. Tudo depende da avaliação. Mas, infelizmente os médicos ainda não se atentaram para esse tipo de tratamento.
BBnewsEntrevista – Qualquer pessoa pode usar as palmilhas?
Juliana Blanco – Sim. É muito indicada inclusive para os idosos, que tem dificuldades na marcha e no equilíbrio, porque perdem muito músculo nas pernas. Isso porque elas promovem o “grounding”, o aterramento. Na prática, as palmilhas tratam fascite plantar, esporão de calcâneo, Neuroma de Morton, pés planos e cavos ,assim como os pés pronados (para dentro) e supinados (para fora) até dores nos joelhos, quadril e coluna que tem causa na alteração de pisada. Por isso, é feita uma avaliação biomecânica completa e exame de baropodometria para analisar a distribuição de apoio plantar.
Que bom encontrar solução pra tantas dores no corpo.
Bela e esclarecedora entrevista, Britz! Que bom saber que existe solução para uma série de dores.
Parabéns!!!!!
Excelente informação! Nada como saber que existe gente hiper competente nessa área da saúde !!!
Uma entrevista ótima 👏👏👏
Dra. Juliana é MUITO COMPETENTE e entende da dor gente!