quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Em busca de arroz, feijão e bife acebolado

 

 

PIETERPAD – Dia 2 — Quando tudo parece meio complicado sempre aparece uma mão para te socorrer. Ontem à noite, no melhor estilo “como fazer amigos e conquistar as pessoas,” conheci uma galera muito divertida da Holanda e Letônia. Estava no saguão do hotel, pronto me dirigir a Assen, Holanda, eis que encontro parte do pessoal. Jeroen fez questão de me dar carona até a cidade.  Já Natālija dirigiu devagar e pude apreciar com serenidade as vaquinhas nativas a pastar solenes nas terras planas do horizonte rural do país.

 

Foram 19 quilômetros de caminhada desde Rolde. Quase todo percurso atravessa o Parque Nacional Drentsche Aa. No final, estava morrendo de fome e bateu saudade grande de arroz, feijão, bife acebolado, batata frita canoa e salada. Comida barata de rodoviária preparada pela imaginação. Devia ter feito matula no régio café da manhã. Para piorar, perdi garrafa de suco laranja com banana.

 

 

A Holanda é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Isso em território 270 vezes menor do que o americano. Pelo Piterpad é claramente observável a eficiência dos caras no campo. Tudo por conta de decisão política tomada 20 anos atrás por meio da qual eles passaram a produzir muito mais, em alto padrão, usando cada vez menos solo e água. Desde que nasci, há seis décadas, ouço a conversa tola de que o Brasil seria isso ou aquilo em 20 anos. Nada realmente aconteceu por falta de planejamento, execução meia-boca e enorme capacidade de roubalheira instalada pelos políticos malandros de todas as tendências ideológicas.

 

Não tem essa de que os europeus destruíram a vegetação nativa e hoje querem se apoderar da Amazônia. Agricultura e reservas ambientais convivem aparentemente bem, apesar dos protestos dos ambientalistas locais que consideram predatória a atividade econômica. Por outro lado, as referências de conservação da biodiversidade estão em todos os lugares, sem falar das indicações antropológicas que remontam o Neolítico. Alguma coisa próxima de 5 mil anos antes de Cristo.

 

 

Andei bem sem maiores percalços depois de fazer ajuste fino no equipamento. Uma simples meia pode fazer toda diferença e prevenir as bolhas nos pés, maior adversidade em caminhada de longo curso. Apesar de bem-sinalizado, é fácil tomar rumo errado no Pieterpad, especialmente ao cruzar as florestas. Claro que me perdi umas três vezes e paguei caro pela conduta inadvertida. Ao final, cheguei morto e faminto em Schoonloo, aldeia linda de 250 habitantes pela primeira vez mencionada na história em 1328.

 

Como é usual comecei o dia com música na cabeça. Do nada cantei para a solidão do Pieterpad “Casa No Campo”, composição de Tavito e Zé Rodrix.

 

A letra foi escrita no começo década de 1970 por Rodrix, entre Brasília (DF) e Goiânia (GO), ocasião em que ele transitava pelo Cerrado do Brasil-Central. Tive lauto jantar de costelinha de porco com salada e me instalei em fabuloso Bed & Breakfast. A acomodação pertence à família vegana, dedicada à atividade botânica secundária para fins recreativos, em paz com o ambiente e muito hospitaleira. Não quero saber de notícias do Bolsonaro ou Lula, mas ficarei feliz se alguém puder me enviar foto de arroz, feijão e bife com bastante cebola. Por favor, o ponto da carne é mais para mal passado.

 

 

Marcio Fernandes é jornalista

 

Fotos: Marcio Fernandes

Este post foi escrito por: Marcio Fernandes

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4 comentários em "Em busca de arroz, feijão e bife acebolado"

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