sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Em Israel, um 7 de outubro que não tem data para terminar

 

Um ano após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, Israel enfrenta um cenário de crises. Não apenas são seis frentes de guerra, mas divisões políticas, problemas sérios na economia e uma profunda divisão social interna. O 7 de outubro de 2023 não representa “apenas” mais um dos vários ataques terroristas sofridos pelo país. É uma data com muitos significados.

 

Em Israel, onde a memória está presente no cotidiano e a história de guerras se confunde com as trajetórias pessoais, esta data carrega um significado sombrio: a morte da maior quantidade de judeus num único dia desde o Holocausto cometido pelos nazistas.

 

De acordo com os números do governo de Israel, cerca de 1.200 pessoas – nem todas judias – foram assassinadas por três mil membros do Hamas que invadiram as comunidades e pequenas cidades do sul do país.

 

Também em 7 de outubro, houve o sequestro pelo Hamas de cerca de 250 pessoas que viviam nos kibutzim – pequenas comunidades coletivas – e de outras que estavam numa rave que ocorria nas proximidades. Nesta festa, especificamente, 364 pessoas foram mortas a tiros, violentadas ou queimadas.

 

Na sequência dos ataques, Israel lançou uma campanha militar na Faixa de Gaza que, até agora, já deixou mais de 40 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas. Uma das críticas das autoridades israelenses diz respeito aos números divulgados, já que eles não diferenciam civis de combatentes. O Exército de Israel considera que cerca de 18 mil dos mortos são membros do Hamas, da Jihad Islâmica Palestina e de outros grupos extremistas que atuam no território.

 

 

Um ano após depois, Israel ainda não encerrou a guerra em Gaza, território praticamente destruído pela campanha militar. Ao mesmo tempo, os israelenses iniciaram uma incursão terrestre no Líbano para acabar com a ameaça representada pelo Hezbollah aos moradores do norte do país.

 

 

As estimativas oficiais avaliam que entre 60 mil e 70 mil foram deslocados de suas casas, mas somente há menos de um mês o Gabinete de Segurança israelense estabeleceu que o retorno dessas pessoas deveria ser parte dos objetivos oficiais da guerra.

 

O governo de Israel também não conseguiu responder a uma das principais cobranças da sociedade: um acordo que seja capaz de retornar ao país os 101 reféns ainda mantidos pelo Hamas – muitos deles já mortos.

 

Crises simultâneas

Há uma grande descrença na política e em especial em relação ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O premiê criou um slogan que costuma repetir em discursos e pronunciamentos ao público doméstico: “vitória total”.

No entanto, segundo pesquisa divulgada pelo Canal 12, 68% dos israelenses acreditam que o país esteja distante de chegar a esta “vitória total”. Além disso, no mesmo levantamento, 54% disseram que a guerra não termina “por considerações políticas” de Netanyahu.

 

Esta pesquisa se refere à guerra que ainda acontece na Faixa de Gaza. Por enquanto, não há um levantamento sobre a incursão terrestre no Líbano.

Do ponto de vista econômico, a guerra tem impactos importantes: Israel parou de emitir autorizações de trabalho para palestinos após o ataque de 7 de outubro, criando uma crise de mão de obra, de acordo com a Kav LaOved, uma organização israelense de direitos trabalhistas. Antes da guerra, cerca de cem mil palestinos trabalhavam legalmente no país. Hoje, são oito mil.

 

O Ministério das Finanças está sob a responsabilidade de Bezalel Smotrich, considerado uma das vozes mais radicais da política israelense. Smotrich defende inclusive a reocupação da Faixa de Gaza, território do qual Israel se retirou integralmente em 2005. O primeiro-ministro Netanyahu já garantiu que isso não irá acontecer.

 

Impacto econômico

A guerra levou as três principais agências de avaliação de risco a rebaixarem as notas de crédito de Israel. “A economia israelense é forte e estamos navegando de forma correta e responsável. Os indicadores econômicos apontam para a resiliência da economia e a alta confiança que desfrutamos nos mercados”, respondeu Smotrich em comunicado.

 

Mas há um dado que preocupa o governo, para além da situação econômica. Um relatório do Escritório Central de Estatísticas (CBS, em inglês) mostra que o número de cidadãos que deixaram Israel aumentou 46,7% em comparação ao período anterior, em 2022.

 

Esses dados não incluem o impacto dos ataques de 7 de outubro e da guerra que se seguiu. No entanto, os números relativos aos primeiros sete meses de 2024 mostra dados ainda mais preocupantes a Israel: um crescimento de 58,9% de saídas do país em relação ao mesmo período de 2023.

 

Familiares criticam falta de acordo para salvar reféns

Os familiares dos reféns e os sobreviventes das comunidades diretamente atingidas pelos ataques do Hamas em 7 de outubro têm uma visão crítica ao governo. Principalmente aos esforços que a atual coalizão faz, ou deixa de fazer, para alcançar um acordo que seja capaz de encerrar a guerra e libertar os reféns.

 

O evento oficial é organizado por Miri Regev, ministra dos Transportes, e uma das aliadas históricas de Netanyahu. A cerimônia do governo será gravada e posteriormente exibida porque há o temor de protestos. Diante deste cenário, os familiares dos reféns decidiram ficar de fora e organizar o próprio evento.

 

“Não permitiremos que os nossos entes queridos sejam homenageados num memorial encenado e artificial sob a supervisão de políticos cínicos que se esquivam de responsabilidade”, declarou Yonatan Shamriz ao comunicar que os familiares iriam organizar outro ato.

 

Alon, irmão de Yonatan, foi sequestrado pelo Hamas, levado para Gaza e acabou morto em dezembro do ano passado por engano pelo Exército de Israel.

 

Mais de 20 dos principais artistas de Israel se comprometeram a participar do evento dos familiares dos reféns, que vai ocorrer no Parque Yarkon, em Tel Aviv.

 

Na noite de sábado, a organização do evento informou que a presença do público será limitada em função de preocupações de segurança do Comando da Frente Interna, o braço do exército responsável por emitir orientações à população civil. Antes dessa decisão, a expectativa era de que 50 mil pessoas estivessem presentes.

 

Por: Henry Galsky

 

Este post foi escrito por: Britz Lopes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

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