sábado, 27 de julho de 2024

Ensino pós-pandemia: desafios da nova realidade

 

Foram mais de dois anos diante das telas, longe do ambiente escolar e do contato direto com colegas e professores. Os adolescentes ainda tiveram o desafio de enfrentar as inseguranças típicas desta fase da vida em meio a uma pandemia. Por isso, especialistas em educação alertam que as escolas devem estar atentas para as mudanças de comportamento dos alunos e preparadas para apoiar os estudantes neste processo. E isso já está acontecendo!

 

As consequências do ensino remoto e do distanciamento social para os adolescentes incluem impactos na aprendizagem, no comportamento e na vida socioemocional. “Todo o contexto de pandemia provocou um adoecimento mental nos adolescentes, que está sendo mais visível agora, com o retorno totalmente presencial”, atesta a psicóloga clínica e escolar Débora Damacena. A tudo isso soma-se a defasagem pedagógica que, por sua vez, gera ainda mais manifestações de ansiedade nos estudantes. “Mais do que nunca, temos visto o quanto a parte acadêmica e cognitiva está atrelada ao desenvolvimento socioemocional do sujeito”, constata a psicóloga.

Débora Damacena

 

Por mais que a tecnologia tenha permitido possibilidades em meio à crise, as interações virtuais jamais substituem o contato presencial. Muitos adolescentes perderam a oportunidade de aprender a conviver, logo, os conflitos estão mais acentuados, a vulnerabilidade, a capacidade de olhar no olho e escutar o que o outro tem a dizer. A rotina e a conduta dos adolescentes como estudantes foram alteradas, perderam os limites entre público e privado, casa e escola, pais e professores.  Especialistas observam que, com o retorno presencial, muitos alunos realmente não estão sabendo o que fazer, como se portar. “Os estudantes estão com dificuldade de manter o foco, ficam inquietos na sala de aula, porque desaprenderam como se faz”, observa Débora.

 

Conexão, apoio e projetos coletivos – Diante dessa nova realidade, o departamento de Psicologia Escolar da Escola Interamérica de Goiânia fez um diagnóstico da situação para compreender melhor as principais demandas socioemocionais dos alunos e, a partir deste levantamento, está desenvolvendo projetos coletivos para apoiar os estudantes e contribuir para o seu bem-estar. Entres as ações estão palestras, por exemplo, sobre a transição online-presencial e como as relações de amizade, as interações com os professores e o processo de ensino-aprendizagem foram modificados. Há ainda intervenções pontuais da psicologia em turmas que apresentem maior grau de vulnerabilidade socioemocional e, consequente, problemas de aprendizagem, além de atendimento individual com a psicóloga escolar, caso o aluno sinta necessidade.

 

 

Luísa Hannun

 

Fase de readaptação – Luísa Hannun, de 13 anos, é estudante do oitavo ano e considerou o retorno às aulas presenciais bastante positivo. Para ela, estar cara a cara com os professores facilita a comunicação. A estudante, porém, reconhece que está passando por uma fase de readaptação e o apoio da escola está sendo fundamental.  Luísa conta que os desafios vão desde questões práticas, como voltar a escrever nos cadernos sem usar programas de computador, até as dificuldades para acompanhar o ritmo do conteúdo apresentado em sala de aula.  “Perdi o costume de escrever e acompanhar o conteúdo do quadro negro”, diz a estudante.

 

Para conseguir fixar melhor as matérias apresentadas nas aulas, Luísa está participando de aulas de reforço oferecidas pela instituição. Ela acrescenta que a escola também está mudando o jeito das aulas para prender a atenção dos alunos e criar novas vivências conectadas com a atual realidade dos adolescentes. “Tenho observado que as aulas têm sido mais interessantes e dinâmicas, assim não fico sobrecarregada com conteúdo acumulado”, conta Luísa.

 

Segundo a psicóloga, o primeiro passo é reconhecer que muita coisa mudou e que os adolescentes precisam de espaço para se sentirem acolhidos e poder expressar suas emoções. “Tem sido necessário paciência para ensinar os estudantes a como se organizar, planejar, estudar, ser agente ativo do seu processo de aprendizagem”. Incentivar a participação deles pode proporcionar o sentimento de que são capazes, de que podem reaprender o que ficou prejudicado, o que desaprenderam“ seja no âmbito acadêmico ou socioemocional”, destaca a especialista.

Suelânia Santos

 

Dentro deste contexto, o trabalho de parceria das escolas com as famílias tem sido fundamental. Segundo Suelânia Santos, diretora pedagógica da Escola Interamérica, a relevância da aprendizagem dos conteúdos conceituais e o rigor acadêmico proposto pela escola precisam ser acrescidos de uma educação para a vida, uma vida com sentido a partir do autoconhecimento em direção à construção de uma sociedade mais tolerante, respeitosa e humana. “Se o indivíduo se sente acolhido pela família e pela escola, também se sentirá preparado para superar as dificuldades que o momento impõe”, conclui a pedagoga.

 

Este post foi escrito por: Lila Nascimento

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Este post foi escrito por: Rimene Amaral

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