sábado, 12 de outubro de 2024

História da arte goiana é revisitada em acervo

Acervo da goiana Zilca Rodrigues de Lima é inédito e tem obras de 32 artistas goianos. A vida da marchande e colecionadora também faz parte da mostra e revela uma história de amor com a cultura.

 

A 588 Art Show, galeria e antiquário, apresenta a exposição Goiânia Celeiro de Artes: Acervo de Zilca Rodrigues de Lima (1970-1990), de 12 de abril a 11 de junho. São 75 peças de 32 artistas do acervo da marchande goiana Zilca Rodrigues de Lima, nunca exposto ao público. A mostra foi possível com o apoio institucional do Município de Goiânia, por meio da Secretaria de Cultura (Secult) e a Lei Municipal de Incentivo à Cultura. A exposição terá ainda uma parte itinerante, que poderá ser vista na Central de Decorados da Consciente (Av. T-2, esq. c/ T-55, n.º 201, Setor Bueno), de 13 de abril a 13 de maio. A empresa reafirma o compromisso com o fomento à arte e à cultura, promovendo a integração com a comunidade.

 

Dentre os trabalhos selecionados estão obras de Agostinho, Amauri Menezes, Américo de Souza Neto, Antônio Poteiro, Bento, Caetano Somma, Carlos Sena, Célio Braga, Cleber Gouvêa, Deck, Diva Goulart, DJ Oliveira, Elder Rocha Lima, Elifas, Fé Córdula, Frei Nazareno Confaloni, Gibran, Gilvan Cabral, Iza Costa, J. Barale, Juca de Lima, Ken Yuaça, L. Souza, Lady, M Cavalcante, Norma Caiado, Odon Nogueira, Omar Souto, Raul di Vicêncio, Roos, Siron Franco e Vanda Pinheiro.

 

Siron

 

A 588 ArtShow fica na Rua C-167, Qd. 588, Lt. 11, Jardim América / Setor Nova Suíça. A entrada é franca, de segunda a sexta-feira, das 13h às 18h. Na Central de Decorados da Consciente será de segunda a sexta-feira, das 8h às 19h, fins de semana das 8h às 17h.

 

Zilca tem 84 anos, é colecionadora e trabalhou com galerias de artes e artistas plásticos reconhecidos nacionalmente e internacionalmente na cidade de Goiânia. Falar sobre o passado, os diversos guardados e a trajetória de Zilca é como adentrar num rico sítio histórico. Uma gaveta, livros diversos de décadas passadas ou sua própria sala de estar… qualquer canto revela um aglomerado importante que compõe esta exposição.

 

Antônio Poteiro

 

Esse acervo é uma grande oportunidade para quem aprecia a arte goiana, em exposição inédita. Dentro do escopo deste projeto, está prevista ainda a catalogação de todo o acervo a ser exposto. Essa representatividade é de extrema importância para a perpetuação de uma memória, preservação e proteção de um acervo goiano particular, com a identificação das obras e memória de artistas referenciais de uma época. Zilca tem uma trajetória de trabalho e o amor às artes visuais em Goiás, guardado e conservado por cerca de 35 anos. A exposição servirá como molde para outras mostras itinerantes de um acervo único, com olhar particular, de uma mulher à frente do seu tempo.

 

Zilca: história em primeira pessoa

Me chamo Zilca Rodrigues de Lima. Sou mulher, nascida no século passado, nos idos de 1939, na zona rural de uma promissora cidade goiana chamada Serranópolis. Mudei-me para a cidade grande para realizar meus sonhos. O primeiro deles foi em 1975, quando, depois de muitos passos pela Universidade Católica de Goiás, concluí minha formação em Direito.

 

Seguindo outros caminhos, fui trabalhar no Ministério da Educação e Cultura e, por lá, aprendi e colaborei em diversos projetos, até me aposentar. Foi no serviço público que me envolvi com ações voltadas, tanto para escolas, quanto para a cultura em geral. Descobri, nessa trajetória, o gosto pelas artes visuais, que se casava com meu amor pela ancestralidade e pelas memórias construídas.

 

Originária de uma família simples, que lidava com o campo, e de mulheres donas de casa e artesãs. Tive sempre como companhia mãos hábeis, que faziam, no tear, as colchas que até hoje me protegem, e as belezas enfeitadas pelo crochê. Tudo feito pelas mãos daquelas que formavam o universo feminino que me acompanhou, desde criança, na vida da roça e seguiu vida afora. Uma caixinha de metal, usada para guardar agulhas, que a mim foi, amorosamente, presenteada pela minha mãe, está na beira da minha cama e me faz lembrar todo aquele tempo que não volta mais.

 

Carlos Sena

 

Quando jovem, passei por muitos desafios e dificuldades. A mudança para Goiânia foi em 1970. Aqui, transitei por diferentes lugares, vivendo em barracões ou em quartos alugados. Nessa trajetória, vivi no Centro, nas proximidades do Mercado, na Rua 74; na Vila Nova; na Vila Morais (Bairro Feliz) e no Setor Marista, quando pude comprar meu próprio imóvel. Naquele momento, já concursada na área federal, fui muito criticada por comprar um imóvel no meio do mato. Mal sabiam que aquela se tornaria uma das áreas nobres desta capital.

 

As viagens sempre fizeram parte dos meus melhores sonhos. Entretanto, só fui para o exterior aos meus 50 anos, quando me aposentei. Meu apreço pela leitura e pelas artes me levaram a conhecer artistas, museus, feiras, antiquários e centros culturais importantes, mundo afora, o que me fez uma comerciante de artes e antiguidades. Passei e atuei em diversas moldurarias locais, lojas de decoração, livrarias e galerias. Nesse período, conheci, adquiri e comercializei trabalhos de diferentes artistas, atuando como vendedora free lancer e, mais tarde, como empresária do ramo e proprietária da Chez Anna Artes e Coisas, por quase trinta anos.

 

DJ Oliveira

 

Minhas conquistas resultaram de trabalho duro e suado. A comerciante de arte nem sempre é notada, mas tem um papel fundamental enquanto promotora das artes e dos artistas locais. Assim, vivi como uma mulher simples, a uma comerciante de arte, quase sempre, invisível perante a “alta sociedade”. Apesar disso, desenvolvi meu papel ao semear a arte para a minha família, amigos e colegas, e essa é a minha maior felicidade.

 

Apresento, aqui, minha coleção particular, inédita aos olhos do público em geral, cujos objetos marcam um tempo entre 1970 e 1990. Os tecidos, cartas, cadernos de anotações, postais, jornais, revistas, documentos, livros e outros exemplares, também dispostos nessa exposição, fazem parte dos meus guardados, que acompanham minha vida há mais de 50 anos. Gosto de admirar e ver o que conquistei. São telas, objetos em barro, madeira, e muito mais… Tudo isso forma um acervo precioso, com o qual conquistei minha liberdade, minha independência, meus valores e minha legitimidade.

 

N. Confaloni

 

A Galeria

O espaço de eventos de arte 588 Art Show, galeria e antiquário, funciona desde 2016 com inúmeras exposições abertas a todos os públicos, com acessibilidade para pessoas com deficiência e com limitação de mobilidade, com estruturas como rampas de acesso e banheiro adaptado.

 

O espaço de eventos 588 Art Show realiza ainda há sete anos exposições e projetos culturais com condições de executar estrategicamente ações desse porte. A proposta do projeto é alinhar o trabalho dessa mulher goiana, profissional marchand, com seu olhar de colecionadora e comerciante de arte. Ao mesmo tempo pretende homenageá-la pela sua contribuição, além de contemplar e valorizar artistas locais de grande peso do cenário nacional e internacional.

 

O projeto visa à pesquisa da memórias e trajetória da marchande, dos artistas e suas respectivas obras; à realização de inventário, higienização, seleção e documentação por profissionais da museologia e das artes; à catalogação do acervo em gráfica; a instalações artísticas e ações museais diversas. Além disso, a exposição foi formatada e articulada para alcançar todas as estratégias já conquistadas anteriormente com o acervo de moda da colecionadora, trabalhado apresentado em 2022.

 

Acesse o link do catálogo: https://online.fliphtml5.com/pkrrf/ymaa/#p=1

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

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