sexta-feira, 26 de julho de 2024

Hoje é ainda assim como ontem?

 

Hulda Morais – Em 1974 eu estava concluindo o ginásio e ganhei de presente dos meus pais um intercâmbio para os Estados Unidos. Eram poucas as pessoas que tinham a oportunidade de fazer intercâmbio – os tempos eram difíceis para se ganhar dinheiro no Brasil. Minha família fez um grande esforço para me ajudar nesse, que era o meu grande sonho. Meu pai chegou a vender um lote de terras no Setor Universitário, em Goiânia (GO) para me sustentar naquela incursão de experiências e estudos.

 

Estudei e vivi seis meses no norte dos Estados Unidos. Naquela época, para receber uma carta ou enviar notícias para meus pais, os correios demoravam sete dias. Quando queriam falar comigo, o jeito era ir à central da Telegoiás, sediada na Avenida Goiás, e aguardavam para completar as ligações (que eram caríssimas), numa fila para falar de uma cabine apertada  e não incomodar os outros, que também estavam ali com o mesmo propósito. Ou seja, deu pra entender que sequer tínhamos aparelho de telefone em nossa casa.

 

O asfalto da Avenida Goiás terminava no Centro Administrativo. Quase todos da cidade se conheciam e sabiam sobre a vida uns dos outros naquele “miolo” de Goiânia. Mesmo passado tanto tempo, costumo dizer que em Goiás não se pode falar mal de ninguém, pois, com cinco minutos de conversa, já se sabe sobre a família do interlocutor e com menos de meia hora já se torna parente de quem conversa ou se fala nem que seja por afinidade. Hoje em dia nem tanto, mas, ainda necessita cautela.

 

Nos Estados Unidos aprendi e vivenciei muitas coisas que me instruíram para a jornada da vida; além de ter tido a oportunidade de aprofundar nos meus estudos. Foi naquela época que aprendi o que eram boas escolas, bons hospitais, trânsito moderno, estradas decentes, bons hotéis, transporte para os estudantes, transporte urbano, carros diferentes do Fusca, fast food, shopping centers… Ou seja, coisas que com o tempo foram tornando bens da vida através do trabalho árduo de um povo, dos recursos do país, da educação e dos princípios éticos, da moral e da compreensão política dos cidadãos.

 

Daquele tempo até o presente momento já evoluímos muito, mas existem coisas que ainda estamos a anos-luz dos americanos, como as rodovias, o transporte público, as escolas, por exemplo. Pode-se dizer com segurança que nesses quesitos estamos coisa de 50 anos de atraso em relação aos americanos.

 

Naqueles seis meses houve um dia que ficou marcado em minha vida. Chegando da escola no meio da tarde (as escolas nos Estados Unidos eram e ainda são de tempo integral), liguei a TV para ver alguma coisa, quando me deparei com um documentário que me impactou. Era um documentário sobre como os americanos estavam extraindo ouro no Rio Amazonas.

 

Gente, eu não sabia ou sequer havia ouvido de quem quer que seja sobre a existência de ouro no Rio Amazonas. Mostravam como conseguiam transportar máquinas e tratores enormes para extrair também outros minérios. Me senti espoliada! De imediato, e a única coisa que fiz, foi escrever uma carta para meus pais relatando o quanto me senti mal com aquele documentário.

 

Hoje a minha pergunta é: será que ainda hoje tenho somente meus pais para reclamar sobre a soberania do Brasil na Amazônia?

 

Hulda Morais é advogada, empresária do agronegócio e defensora do legado familiar

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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