domingo, 8 de dezembro de 2024

Jogos, publicidade e hipocrisia nacional

 

De repente, estamos assistindo uma invasão de comerciais onde a linguagem, apesar de ser conhecida, faz estranhas referências a coisas que os seres humanos comuns não estão habituados.

 

A palavra mais comum é BET, que em inglês significa apostar, verbo To Bet. E tem de tudo: Betano, Betfair, Betmaster, Sportsbet X Bet e mais nomes nessa linha.  Esses sites têm algumas características em comum: são lojas virtuais de apostas, seus comerciais não explicam o que vendem e normalmente são estrelados por figuras muito conhecidas, principalmente no meio futebolístico (o que me leva a pensar que os apostadores sabem muito bem do que se trata e que o faturamento é muito grande para permitir o pagamento dos cachês e os custos da mídia).

 

Tinha um comercial do Sporstsbet onde o Denilson, ex-Seleção Brasileira, gritava “deu green” a cada evento positivo mostrado no vídeo. Eu nunca entendi o que significa “deu Green.” E sempre achei que estavam jogando dinheiro fora. Tem um mais novo do Betano onde o garoto-propaganda é o lateral Marcelo, também ex-Seleção Brasileira.

 

Não sei quanto custaram, mas essas estrelas costumam receber muito dinheiro a troco de um testemunhal. Quero entender: o jogo é monopólio do Governo Federal, através da Caixa. Aliás, recentemente foi aprovada uma nova modalidade de aposta, batizada de + Milionária, onde a chance de levar o maior prêmio é acima de 1 para cada 230 milhões de apostas (tem que acertar 8 dezenas). A Mega Sena, a mais popular loteria da CEF, dá uma chance a cada 50 milhões de apostas.

 

O governo federal é nosso maior cassino. Não se admite no Brasil uma loja física de apostas, não se admite um bingo onde as velhinhas aposentadas possam passar as tardes. Não temos lojas físicas, mas agora temos os sites de apostas, as grandes lojas virtuais, que oferecem bônus, programas de fidelidade, aplicativos para o jogador levar o balcão de apostas no bolso e outras vantagens.

 

Se o governo estimula as apostas com as loterias oficiais, se os sites de apostas invadem os intervalos divulgando suas marcas (mas não explicam nada do seu funcionamento e a cada mês entra mais um site em operação), porque a hipocrisia nacional continua proibindo o funcionamento de cassinos?  Eles que transformaram Las Vegas, nos Estados Unidos, num imenso pólo turístico, saindo da situação de deserto a um centro vibrante de negócios. Brasileiros saem do País para jogar lá, em Atlântic City, em Montevidéu ou em Assunção. Os mais abonados vão para Monte Carlo.

 

Do ponto de vista da publicidade, todos os comerciais dos sites de apostas são muito ruins (imagina se fossem bons, o que não ampliariam o faturamento deles). Do ponto de vista legal perceberam uma brecha na lei que proíbe lojas físicas, mas admite lojas virtuais. E tudo isso acaba sendo incoerente com a nossa moral e bons costumes, porque os líderes religiosos condenam o jogo, cassinos, prostíbulos, apesar de alguns certamente serem bons clientes desses lugares, mas nenhum deles levantou a voz para reclamar dos sites de apostas. Ao vivo nada pode, no virtual pode tudo.

 

Foto de Javon Swaby no Pexels

Este post foi escrito por: Marco Antônio Chuahy

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

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