Meus maus conselhos para o seu ano novo
Texto de Nizan Guanaes — Todo fim de ano eu escrevo uma coluna sobre esperança. Mas, como eu estou exausto, estou com zero de saco, zero de paciência e zero de inspiração para manter essa tradição em 2023.
Preciso descansar de tudo, inclusive de mim. Da minha animação insuportável, da minha disciplina insuportável. Eu quero comer comida que entupa as veias. Pão na chapa, acarajé, me entupir de Coca-Cola.
Não me chamem para conversas inteligentes. Quero letra de música baiana: “Aê, aê, aê” (olha que beleza de letra!)
Quando eu conheci Jorge Amado, ele só queria falar de uma novela da Globo. Quando eu conheci Oscar Niemeyer, ele me mostrou uma música que dizia que, no final da vida, os urubus vão passear sobre nossos xxx (prefiro não escrever a palavra, mas ela rima com urubus). Gabriel Garcia Márquez amava Nelson Ned.
Lógico: a burrice não tem limite, a inteligência tem. Então esse texto foi escrito sem nenhuma vontade, e com muita limitação. Tipo você naquelas dez festas de fim ano. Eu já pensei num convite assim para festa de fim de ano: “Nizan Guanaes tem o prazer de lhe dar o prazer de não lhe convidar para a nossa festa de fim de ano que não haverá porque ninguém queria ir”. Então, se depois de 2023, você está se sentindo assim, faça uma coisa ridícula neste final de ano: descanse. Tome porres sem moderação, não leia jornal (sorry), fuja das redes sociais e de qualquer coisa que carregue o adjetivo disruptivo. Você, que é muito, muito importante, chame seus amigos de faculdade que chamam você de Dinho, de Zuca e lhe falam coisas que ninguém lhe fala porque você é tão poderoso: como seu cabelo tá acaju, que barriga é essa, aqui você não manda… Todo bilionário, poderoso tem pelo menos um amigo classe média que tira sarro dele, conta piada politicamente incorreta, não o coloca no pedestal. E que ele ama justamente por isso.
Este meu artigo é fruto da minha absoluta impaciência com meu psiquiatra, meu treinador e, sobretudo, comigo mesmo. E eu tô achando você, leitor, um chato. Seu sucesso, seu ROI, sua transformação digital, seu pensar fora da caixa.
Então eu lhe desejo um Natal egoísta e libertador (porque nesta época do ano só Papai Noel tem saco). Descanse muito, muito, muito. E, a partir do meio de janeiro, bem descansado, você volta a ser um ser humano. De agora em diante, ao invés de ser humano, seja só ser. Ser realmente o que você tem vontade de ser. Ser um jogador de futebol frustrado, uma jogadora de beach tênis que ninguém quer ser dupla, uma entusiasta da tranca.
É por isso que as pessoas gostam tanto de ir para as praias da Bahia, porque ninguém liga para quem você é e nem o que significa ser CEO. E é isso o que eu lhe desejo. O que a sua mulher ou o seu marido lhe desejam, o que os seus filhos esperam e o que o seu corpo, a sua pele, as suas costas, as suas juntas e, acima de tudo, a sua cabeça e o seu saco esperam de você. Abra um whiskão, uma caixa de cerveja. Junte um grupo de amigos debochados (que todo CEO precisa) e já, já você estará ouvindo as músicas ridículas que a exaustão pede.
Se permita fazer isso porque nesta época do ano só quem tem saco é Papai Noel. Fuja dos chatos, dos achildos e dos profundos e seja feliz, meu CEO, não sendo CEO, mas sendo SEU.
A Netflix tem umas séries idiotas perfeitas. Na livraria do aeroporto, ou passe reto ou compre palavras cruzadas, uma boa revista Caras. E, se for pegar mal, baixe essas leituras de dar vergonha no iPad. Se você não gostou de nada disso, experimente! Ou leia esse artigo depois de quatro caipirinhas. Que, a cada uma delas, esse texto melhora muito. Fique bêbado com a vida!
Esses são os meus maus conselhos para o seu ano novo ser feliz.
Texto de Nizan Guanaes
Ilustração: The Drunken Couple, óleo sobre tela de Jan Steen, pintado entre 1655-1665; acervo do Rijksmuseum, Amsterdam
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Sensacional!