Nada contra a natureza e um cão muito raivoso
PIETERPAD – Dia 3 – Hoje eu acordei pleno de hesitação. Vou seguir o caminho de Pieterpad? Vou descolar voo para o Vietnã? Vou voltar aos anos 1970 em direção a Scarborough Fair, de Simon & Garfunkel? Vou pegar o primeiro trem para Auschiwitz-Birkenau?
Acabou que fui socorrido pela Kobe. Ela passeava com neto em carrinho de bebê e foi comigo até a saída de Coevorden, Holanda. “Vá! Você vai se sentir muito bem. Esta parte do Pieterpad é linda e a paisagem irá te surpreender,” insistiu. Antes, parei para comer bolo de chocolate e comprar água boa.
A etapa entre Coevorden e Hardenberg tem extensão de 19 quilômetros. Dividi a caminhada em duas fases, com passagem em Gramsbergen para reposição de suprimentos. Estava meio indisposto a atravessar reservas ambientais. Isto não significa que pretendesse queimar a floresta, matar os bichos e exterminar os indígenas. Só queria mesmo que a caminhada fosse feita em ambiente mais urbano possível.
O dia de verão no interior da Holanda estava frio e caía garoa inconveniente. No caminho, encontrei grupo de fazendeiros que protestava contra o governo da Holanda. Os produtores rurais daqui não se conformam com as medidas estatais que visam reduzir a atividade primária na Holanda para dar cumprimento às metas de corte da emissão de carbono da União Europeia.
É impressionante o alto nível das propriedades rurais holandesas. São fazendas-modelo com sedes majestosas e meios de produção muito avançados. Por falar em avanço, estava caminhando distraidamente na ocasião em que fui atacado por um cachorro grande. O animal ficou bastante contrariado com minha passagem e partiu para cima com decisão. Passei apurado e suei frio até conseguir, com extraordinária habilidade, administrar a situação de sobrevivência. Não há como fugir. Sempre algum cachorro vai correr atrás de mim.
Marcio Fernandes é jornalista
Fotos: Marcio Fernandes
Márcio Fernandes e seus brilhantes textos.. é o cara!!