sexta-feira, 26 de julho de 2024

O econtro com a mais famosa focaccia, rainha pobre da mesa italiana

 

 

 

 

De volta à estação de La Spezia Centrale, onde já estou devidamente registrada pelas câmeras de segurança, pego o trem em direção a Recco para o ecnontro com a focaccia mais famosa do mundo – ação de quem está por conta do dolce far niente na Itália. A viagem de 1h08 é quase toda pelos túneis rasgados na montanha, mas com charmosas estações abertas com vista mar, linha construída entre 1868 e 1874, partindo de Gênova.

 

Assim que desci do trem e alcancei o centro de Recco, o cheiro da iguaria mais famosa da Ligúria toma conta das ruas me abastecendo de um sentimento de aconchego. Era preciso encontrar “A focaccia” para fazer valer a pena a incursão. Como o acaso sempre trabalhou a meu favor, ali perto das 14 horas, quando tudo vai fechar para a siesta, o perfume da iguaria já me dominava por completo.

 

Eis que no exercício do andar a esmo, me deparo com uma portinha tímida, que parecia ser a responsável por pelo menos 90 por cento daquele cheiro que persegui. Era a hora certa de afagar o estômago.

 

A atendente, com porte tímido como o meu, só me pergunta que focaccia vou querer. Pedi a tradicional, com stracchino, um queijo italiano leve, mas com sabor particular, nada a ver com a ricota-isopor que encontramos no Brasil. Ela corta com tesoura uma ainda bem quente, de tamanho correspondente a uma pizza média.

 

Me sento num dos banquinhos rústicos do local, que data de 1948, e me delicio com aquela massa transparente, crocante, mas totalmente amaziada com a cremosidade do stracchino. Um não interfere no protagonismo do outro. Como sou de apetite minimalista, levei metade para o apartamento, mas revisitei o embrulho assim que necessitei experimentar de novo aquela receita de poucos ingredientes e rica de todo o tipo de afeto, acolhimento e tradição.

 

Ela tem história

A focaccia é comida de rua genuína na Itália, com suas muitas variações: stracchino, tomate, cebola etc. É uma parente ancestral do pão porque nem sempre necessita de fermentação. As origens desta especialidade não se afastaram muito do produto elaborado nas civilizações mediterrâneas com mistura de farinha, água, sal, azeite e cozida em fornos rudimentares.

 

Era consumida pelos fenícios, cartagineses e gregos. Na época romana, as focaccias eram dadas como votos, destinadas às divindades, enquanto durante os banquetes renascentistas eram servidas nas mesas de casamento, acompanhadas de uma boa taça de vinho. Como comida de rua, a focaccia era a favorita dos viajantes e pescadores já no século XIX .

 

Mas elas podem ser bem diferentes na mesma região. Enquanto a genovesa nunca passa de dois dedos, brilhante com azeite extra virgem, água e sal grosso, perfurada, crocante por fora e macia por dentro, a de Recco, que elegi a melhor, é única e inimitável. Uma massa definitivamente transparente, com recheio de queijo fresco; de preferência com meu amado stracchino. A coisa mais deliciosa e de aparência mais desajeitada que já provei.

 

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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