sábado, 27 de julho de 2024

O privilégio atravanca o progresso

 

Na semana passada, escrevi um artigo chamando a atenção para o fato de estarmos andando para trás, perdendo a oportunidade de andar pra frente. E andar pra frente, desde os conselhos dos pais, tios, avós etc., significava, entre outras coisas, olhar o futuro. Para o seu próprio futuro! A partir do artigo da semana passada me deparei com algo que vem atrapalhando o teu, o meu, o nosso futuro. Chama-se PRIVILÉGIO. E, a partir daí, fui procurar nos buscadores profissionais e rapidinho pafth! Abaixo o que diz o tio Google:

 

 

Privilégio

Substantivo masculino

  1. direito, vantagem, prerrogativa, válidos apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento da maioria; apanágio, regalia.
  2. diploma que contém a concessão de um privilégio; patente.

 

Conforme a descrição acima, você percebe que o chamado povão está fora da prerrogativa de ter qualquer privilégio. Esse pensamento explodiu na minha cabeça quando o Supremo Tribunal Federal decide quem tem direito a “cela especial”: quem possui curso superior. Você há de concordar que o Supremo acabou com um privilegio típico de republiqueta de bananas. Claro que essa providência — cela especial — à época, visava pura e simplesmente tirar o “doutor” seja ele de que especialidade fosse: médico, advogado, engenheiro, economista, relações internacionais, jornalista, relações públicas, cartógrafo e todos os trocentos cursos superiores existentes no Brasil e, alguns desses, sem a necessidade de estar presencialmente nos bancos escolares.

 

 

Eu tive (pelo menos uma vez) o privilégio de ver o Ministro Ricardo Lewandowski brandir a Constituição em apoio ao senador Renan Calheiros, na caçada à PresidentA Dilma Rousseff, apeando-a da presidência, mas deixando-a com os direitos políticos, que só foram cassados pela legítima via de eleições, das quais ela saiu derrotada. Desde aquela época deixei de ver o STF como supremo guardião da Constituição, afinal aquilo foi o que a esquerda costuma chamar de golpe. Mas, como à época não havia os “passports” verdes, quadrados e cheio de medalhas envolvidos, a esquerda deixou seguir, embora a atual governadora das Alagoas ficasse rouca de gritar é gorpi, é gorpi. Creio até que aqui já temos um pedaço da descrição acima; direito, vantagem, prerrogativa, validos apenas para um indivíduo ou um grupo, em detrimento maioria.

 

 

Naquele momento, amplamente mostrado pela Globo, Renan Calheiros, atual apoiador do Presidente Lula, matou a pau na metade do segundo mandato a então indicada do Stalinacio da Silva, à Presidência. Não sei se vocês concordam, mas notem que privilégios, prerrogativas, apanágio e regalias são comuns nessas esferas de poder.

 

 

Mas eu não posso deixar de notar que a decisão do Supremo de coibir a tal prisão especial aos portadores de curso superior, que na prática não muda nada. Como se dizia antigamente é mais para inglês ver. Estão fora das celas comuns o presidente e seu vice, os advogados, os juízes, os militares, os governadores, os vereadores, os delegados e, pasmem, “os cidadãos inscritos no Livro do Mérito”! E eu, como a maioria dos pagadores de impostos que não estamos em qualquer lista de privilégios, nem sabia que existia isso.

 

 

Acima quem criou o tal livro, quem tem o privilégio de cuidar do livro e quem tem o privilégio de colocar os nomes no tal livro? Falando em privilégio, gostaria de lembrar que a única vez que o povo, o trabalhador, a sociedade realmente tiveram voz, e de alguma forma importância, foi na segunda metade do século 18 quando a revolução industrial, que teve início na Inglaterra, passou a exigir desesperadamente mão de obra em grande quantidade, fazendo com que nesse momento o trabalhador passasse a ter importância. De lá para cá deixamos que fosse criada no Brasil e no mundo uma casta de Excelências que rapidamente se acostumaram com as benesses que usufruem às nossas custas.

 

 

Essa minha colocação parece “coisa de comunista”, mas afirmo que não é. É apenas revolta de ver o tempo passar e as tão prometidas reformas nunca acontecerem. Estamos quase surdos de ouvir falar em reformas. Recentemente estiveram na berlinda a reforma da previdência, tributária, administrativa, trabalhista e um monte de outras que não lembro agora e que nunca são levadas a sério porque os tem privilégio não querem reforma nenhuma. Quem quer reforma são os pagadores de impostos, o povão, a chamada sociedade; esses querem reformas. Os que detém o privilégio de decidir, legislar ou julgar fogem como o diabo da cruz de qualquer reforma, simplesmente porque qualquer uma delas vai mexer nos privilégios de alguém. A bem da verdade e eu já trabalhei e sempre que posso continuo trabalhando pelo sonho de implantar a mãe de todas as reformas.

 

 

Se o Brasil e suas autoridades realmente quisessem consertar, dar um alento à sua população, já teriam feito a reforma política & eleitoral que, insisto, é a mãe de todas as reformas; isso caso quisermos continuar em um regime próximo da democracia. Partindo de uma reforma política & eleitoral que contemplasse míseros cinco pontos que se aprovados em conjunto, seguramente em três legislaturas, reles 12 anos, transformaria o País definitivamente sem ter de fazer o L ou ir para a frente dos quartéis e acabar sendo acusados de golpistas.

 

 

Caros leitores, o Brasil precisa de uma reforma política e eleitoral que contemple cinco pontos: 1) Fim do voto obrigatório. /2) Fidelidade partidária, não esse embuste que há hoje / 3) Voto Distrital. / 4) Fim da reeleição. / 5) Cláusula de barreiras, insisto, não essa enganação que temos hoje. Prezados leitores, a democracia brasileira tem estado a viver de voos de galinha. Passa um ou dois governos e logo mergulhamos em crises institucionais. É um impeachment daqui uma ameaça de golpe dali e isso só evidencia o fato que o nosso sistema político eleitoral é frágil.

 

 

Note que todas as eleições tem nos deixado com gosto amargo de votar no menos ruim. Se a opção de estar sempre votando no ruim ou menos pior lhe satisfaz, lamento informar que você e seus descendes vão viver em um Brasil cada dia pior, sem estabilidade, sem projeto de longo prazo e futuro duvidoso. Não confundir projeto de governo com projeto de NAÇÃO.

 

Ilustração: giromarilia.com.br/coluna Jéssica dos Santos

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Este post foi escrito por: Hiram Souza

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