terça-feira, 12 de novembro de 2024

Se pudesse escolher: viúva ou divorciada?  

 

Aos 47 anos, 20 de casamento, dois filhos, Ana Maria, nome fictício de uma empreendedora de Aparecida de Goiânia (GO), separou-se depois de descobrir que o marido a traía com uma de suas sócias que convivia bem de perto com o casal e toda a família. Ele, empresário de negócio estável, bom pai e até então companheiro exemplar, assustou-se com a reação de Ana, que não esperou explicações e pediu o divórcio imediatamente.

Apesar da firmeza de atitude, Ana viu seu mundo desmoronar: os almoços em famílias, as festas de aniversário, as viagens de férias para a praia, os planos para o futuro viraram passado definitivo. Não foi decisão fácil para ela passar à condição de divorciada. Isso há cinco anos. Baque na auto-estima, a busca de porquês em sessões de terapia, a negação e a criação de uma concha de proteção que a deixou isolada do mundo. Passou a viver sozinha e angustiada, cultuando dor dilacerante.

Só hoje, quase seis anos depois, Ana consegue pronunciar o nome do ex-marido, falar do assunto divórcio com as amigas, contar como foi difícil levantar-se do tombo. Praticamente curada, com idas ao terapeuta apenas por manutenção e cheia de propósitos na vida, com planos para serem colocados em prática, ela chegou à conclusão que preferia ter ficado viúva. A mágoa da rejeição quase a matou. Seguem as justificativas dela, que não aconselha ninguém matar o marido.

Queridismo X rejeição

  • A viúva não precisa sair rasgando as fotos dos porta-retratos, aliás, sempre bom se lembrar do falecido. Já a divorciada quebra logo tudo – talvez poupe o porta-retratos da H. Stern, substituindo apenas a foto.
  • Quando a viúva ouve as músicas da Alcione, a Marrom, chora de saudade, lembra da disposição do falecido para preparar um churrasco responsável. Se a música for Faz uma loucura por mim, então, a viúva acredita na letra, gasta o latim em defesa do falecido. A divorciada vai estrangular a Alcione quando encontrá-la – como conseguiu camuflar a traição!? Vai deletar tudo que é música que fale de perdão ou segunda chance. Melhor: queimar CDs, pen drives e afins.
  • Antes mesmo do final do luto, ainda chorando a perda, a viúva doa, com paixão e aos prantos, as roupas do companheiro que se foi… Muito sofrimento, mas desapego necessário. A divorciada tem na manga sempre duas opções: atear fogo para fazê-lo gastar com o novo guarda-roupa ou jogar as malas dele – malfeitas – na calçada. Se for da janela de um prédio, melhor ainda o espetáculo. Em qualquer opção, o closet será inteirinho da mulher largada.
  • Família do falecido, aqui incluindo sogro, sogra, cunhados e até os pets, se desdobra em atenção para as coitadas das viúvas. Telefonemas de empurrão para a vida, mensagens para levantar o astral, agradinhos comestíveis e presentinhos que não levam a nada. Se a situação foi divorciada, até o cachorro rosna pra você.
  • Quando sua casa fica vazia em função da morte do marido, é destino; no caso de divórcio, quebra de contrato – muitas vezes unilateral. Fica-se a sensação de que um ciclo não foi fechado; dor de perda, impotência, rejeição.

 

Conclui Ana: Separei! E agora, José? A festa acabou ou continua? Assunto para os próximos capítulos.

 

Ilustra a reportagem

“Dissent From the Pedestal” é uma tentativa de retratar a Estátua da Liberdade caída / foto divulgação do Museu de Arte Ruim / Somerville, EUA, autor não mencionado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Este post foi escrito por: Britz Lopes

As opiniões emitidas nos textos dos colaboradores não refletem necessariamente, a opinião da revista eletrônica.

1 comentários em "Se pudesse escolher: viúva ou divorciada?  "

  • Anna Paula Anna Paula disse:

    Quero saber dos próximos capítulos 😂😂😂😂 com nome e tudo do marido e se ele está ainda com a outra 😂😂😂

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