Seminua em Barcelona

Viajo muito sozinha. Adoro me desafiar. Mas em umas dessas, por longo tempo falando comigo mesma, a coisa desandou. Depois de 30 dias no Airbnb em Florença, na Piazza Santa Croce, fui arrastar mala na Espanha. Ah, só para deixar claro, na Itália tenho amigos de sair pro café, ir para a balada italiana, e me entregar na porta de casa galão de Chianti Ruffino a 1,50 euro o litro. Mas era hora de seguir.

Barcelona. Bairro Gótico. Apartamento pequenino, aconchegante, numa daquelas ruelas pré-históricas. Num belo sábado de inverno, os termômetros registravam 20 graus, sol de gritar – pronto! Vou para Barceloneta tomar uma cava à beira mar e comer camarão alho e óleo. Excitação no último grau. Esquentei a tortilha maravilhosa do Mercado de Santa Caterina, cafezão fumegante; separei a roupa, fui para o banho pensando em conhecer pessoas e conquistar novos amigos. Aprontei e saí – sempre a pé, é claro.

Eram 10 da manhã, lojas abrindo, me lembrei que tinha 100 euros para um presente. Fui medindo passos e olhando vitrines daquelas lojas de designers de joias em prata que só em Barcelona tem. Numa delas, já na metade do caminho, observo no reflexo do vidro: uma pequena figura quase esquálida, com casaco preto de poá inflado de pena de ganso, mas desnuda da cintura pra baixo – só de meia calça. Sim, era eu mesma!

Havia me esquecido de vestir a saia! Um horror! Daí a dúvida: voltar para me recompor ou seguir? Pensei: o tempo poderia virar a qualquer momento, ninguém havia me olhado torto… Fiz do cachecol uma saia e segui de nariz empinado, como se passasse nada. Alcancei Barceloneta, exerci o combinado comigo mesma e voltei no final da tarde. Chegando ao apartamento, fiz uma foto-prova que apaguei na sequência com medo de vazamento, abri um vinho e fui rir do ocorrido. Depois teve confusão grande em Madri. Outra história.