sábado, 27 de julho de 2024

Suicídio. Ele está no meio de nós!

 

Difícil encontrar quem não tem uma história de suicídio na família ou não conhece alguém que decidiu acabar com a própria vida. O espectro, antes restrito a esporádicas manchetes de jornais, hoje é fato cotidiano – noticiá-lo virou lugar-comum.  Decifrar a mente de um suicida e tentar demovê-lo da ideia fixa de que não mais vale a pena viver é tarefa para profissionais como João Armando de Castro Santos, médico psiquiatra pelo Hospital das Forças Armadas do DF – onde também é preceptor da residência em psiquiatria –, com pós-graduação em Dependência Química e Psiquiatria Forense; também é diretor do conceituado Instituto Castro e Santos. Um apaixonado pela arte de entender o perfil de seus pacientes e, com isso, poder mudar um trágico destino que se anuncia. À entrevista.

 

Bbnewsentrevista – A depressão é a principal causa do suicídio?

João Armando – Os transtornos de humor em geral (Transtorno Depressivo Maior e Transtorno Afetivo Bipolar) são a principal causa, porém não são as únicas.

 

Bbnewsentrevista – Qual o componente químico que falta no cérebro de uma pessoa que passa a ter pensamentos suicidas? Há como monitorar isso, tipo um check-up como se faz de coração?

João Armando – Não há um componente químico que falta no cérebro, a ideação suicida é um sintoma muito complexo e dificilmente será explicado por apenas um fator, sendo um conjunto de fatores biológicos, sociais e psicológicos que levam a desenvolvê-lo. Além disso, existem diversos perfis de pacientes.

 

Bbnewsentrevista – Há sempre um gatilho ou isso depende de cada indivíduo?

João Armando – Isso varia, em muitos casos existe uma situação que desperta um sintoma que já estava presente, por exemplo, uma situação traumática, porém existem pacientes sem nenhum gatilho e que desenvolvem o sintoma.

 

Bbnewsentrevista – Ao contrário do que se poderia imaginar, o número de suicídios em 2021, ano pandêmico, caiu em vez de aumentar. Como explicar isso?

João Armando – Essa não foi a realidade que vivenciamos no dia a dia e creio que esse dado talvez esteja subestimado. É fato que durante a pandemia de Covid-19 os psiquiatras foram mais acionados por questões tanto de tentativa como de ideação suicida. Teria que estudar melhor esses dados para poder entender.

 

Bbnewsentrevista – Existe algum traço de personalidade comum entre os suicidas?

João Armando – Personalidades com traços impulsivos é um fator de risco importante para o suicídio; talvez um dos mais importantes, porém outras características como personalidades dependentes podem contribuir.

 

Bbnewsentrevista – Qual o percentual de pessoas com tendências suicidas que o psiquiatra consegue reverter? É possível remover essa idéia fixa?

João Armando – Não tenho esses dados em porcentagem, porém um tratamento adequado para a ideação suicida na maioria dos casos se mostra efetivo, na prática clínica vemos que muitos pacientes após receberem o tratamento adequado revertem o quadro.

 

Bbnewsentrevista – O que os amigos e familiares podem e devem fazer quando percebem aquela tristeza incontrolável num ente querido?

João Armando – O primeiro passo é procurar um serviço de saúde mental, o segundo é não estigmatizar e julgar. Os transtornos mentais são patologias médicas como qualquer outra que temos na medicina. Por fim e talvez mais importante seja ouvir essa pessoa quando ela estiver expressando seus sentimentos.

 

Bbnewsentrevista – A forma como a pessoa se suicida diz algo sobre a sua personalidade?

João Armando – O método suicida não define nada sobre a personalidade e poucos estudos são feitos nesse sentido.

 

Bbnewsentrevista – Há suicidas que não dão a mínima pista de que pretendem tirar a própria vida. O que é isso? Algum tipo de psicopatia?

João Armando – O suicídio é algo muito complexo, em alguns casos sequer existe uma doença mental, como nos casos em que alguém recebe uma notícia muito desesperadora ou por questões religiosas, logo nem toda tentativa ocorre em pessoas que tinham antes pensamento suicida. Muitas vezes a tentativa ocorre em quem nunca teve nada ou nenhum pensamento suicida. Porém, a maioria dos pacientes dá vários sinais e a maioria absoluta em algum momento pede ajuda, porém muitos deles não são ouvidos.

 

Bbnewsentrevista – Quais são os sintomas mais visíveis de um suicida em potencial?

João Armando – Sentimentos como desesperança, desamparo, sensação de vazio e impulsividade são comuns, porém o suicídio é complexo e não há um perfil específico.

 

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Este post foi escrito por: Britz Lopes

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