Uma hora para viver história de longo curso
Marcio Fernandes – Eu sabia que o reencontro com a Heloísa iria trazer o Caminho de Santiago de volta ao nosso ponto de partida. Tínhamos só uma hora na manhã de terça-feira para nos ver antes que ela saísse para Boston. Heloísa chegou um minuto atrasada. Mesmo assim ganhou medalha! Super qualificada! Certamente pertenceu a algum manda-chuva na hierarquia de poder do Soviet Supremo. Condecoração grande! Presente à altura desta menina com milhares de anos acumulados no domínio da Península Ibérica e de régia origem da Casa de Duarte!
Eu também ganhei presente! Heloísa me deu o fone de ouvido sem fio dela. O Paul já havia me doado o dele, mas eu não sabia mexer em bluetooth. Uma palavra! Espetáculo! Tecnologia fantástica que eu não conhecia! Som limpo! Definição bacana de instrumentos e voz! Aceita altura sem ratear! Incrível sensação de independência! Precisamos inscrever o fone de ouvido sem fio no livro dos heróis da pátria! Meus braços já não se embaraçam no fio do fone e outra coisa fantástica é o planejamento de usar esta nova sistemática de som na próxima vez que sair com La Madrasta II por aí!
Naquela uma hora que eu dividi com a Heloísa sem olhar para o relógio rodaram cenas da nossa viagem do Porto a Santiago de Compostela a pé. Até rolou umas implicâncias adquiridas no Caminho e muita intimidade de quem foi elevado à categoria de amigo-irmão pela graça de Santiago e suas rotas de estrela e muito sofrimento. Acho que no fundo precisávamos nos ver para confirmar sem dizer palavra que nós fizemos o Caminho de Santiago!
Como Heloísa se superou para conquistar a Montanha da Labruja! Do nosso grupo de quatro caminhantes, ela foi quem mais sentiu o peso da caminhada de longo curso por 10 dias consecutivos. A fila dela anda! Heloísa andou com bolhas nos pés, o que simplesmente tira a figura do Caminho. Praticou a devoção católica nos lugares sagrados em direção do Apóstolo Maior!
Manteve a elegância até na chuva tentando achar a Molly! Deu lindas risadas porque o Caminho é um enredo de coisas boas! Ficou marcada para o resto da vida. Depois de menos de 20 minutos de conversa ela me pergunta se iríamos fazer de novo! Vamos sim, ir para bem longe! Por todos os caminhos que levam a Compostela! Não me lembro dela triste! Brava, sim! Caraca! Heloísa é uma Dona Onça, mas logo passa!
Agora estou em casa passando na memória a Heloísa que descobriu que eu já havia chegado a Padrón, pois encontrou o meu fone de ouvido no chão em frente à recepção do hotel. Ela se lembrou do sacana do Paul que me induziu a jogar no bueiro duas taças de vinho água de balde que eu comprei em supermercado da cidade! Os galegos em mesa ao lado ficaram muito putos!
Nossa! Nosso jantar em Ponte de Lima foi espetacular! Comida boa e o Paul ter indicado alguma coisa muito densa do Alentejo para a gente beber e começar a ser amigos para sempre. E o tanto que a gente andou, Heloísa! Lembra-se das florestas cobertas de musgos, das pedras deixadas para as pessoas amadas, dos trechos sofridos, das roubadas evitáveis, do mar ao lado, das lindas paisagens, das nossas histórias que ficaram nesta deliciosa viagem. A fila anda!
A música de hoje é Good People com Jack Johnson porque todo mundo merece coisas boas!
Marcio Fernandes é jornalista!
Toppppp
Aí irmão! Precisamos nos encontrar e fazer uma bela entrevista!
Belas lembranças! Grandes amigos. 👏👏👏👏👏👏👏
Sim! Você é uma grande amiga!-Te amo!
Ah meu querido amigo-irmão Márcio: o aluno mais “Fera” (no sentindo literal da palavra) que eu já tive e que me marcou pelo grande desafio que eu sentia a cada aula, manejando seus olhares desconfiados.
Podia ler sua mente, questionando seus limites frente ao meu autoritarismo sem pedir licença. Exuberava claramente um conflito em seu ser: serei indomável ou obediente frente a esse moça falante!
Décadas se passaram e até hoje a lembrança daquele tempo trazem boas risadas: a Britz, uma eterna simpatia e com um alto astral radiante, me presenteando com versos “It’s raining men…” e vc aquele enigma!!!… com uma braveza só sua e eu me divertindo muito.
Mas é assim mesmo: duas feras podem ter uma eterna empatia e admiração um pelo outro e viver feliz para sempre nessa fila que anda.
Sou eternamente grata por segurar minha mão desde o meu KM250 do primeiro caminho e por ser um grande mentor.
Pelo menos não nos ensinamos que casinha de grãos na Galícia é poleiro, (lembra? 🙂 mas que carros meio alegóricos também carregam caixão e que as mini piscinas de água corrente são lavanderias de outros séculos.
Obrigada por tanto carinho. Já estou com saudades e já vamos já planejar nosso próximo caminho. Heloísa
Professora, não tenho palavras para mensagem tão dedicada! Muito obrigado pelo Caminho! Te adoro!
Minha querida professora. Grande beijo e volte logo!!!